Acorde Diminuto: tudo sobre o rei dos trítonos

Determinante na harmonia, o acorde diminuto nasceu cercado de beleza e mistérios. Sua aplicação é capaz de engrandecer e enriquecer uma música.

Por isso, ele merece toda atenção.

Hoje, conheceremos a natureza do acorde diminuto, simbolizado por ° ou dim. Em seguida, falaremos sobre suas particularidades e usos na música moderna.

Vem comigo?

Dica matadora

Antes de começar, convido você a ler nossos guias sobre escalas musicais e bemol e sustenido. Isso facilitará bastante sua compreensão. Você será capaz de entender o acorde diminuto em maior profundidade.

Acorde Diminuto: formação e natureza

Em primeiro lugar, um acorde diminuto corresponde a uma tétrade formada pelos intervalos:

  • Primeiro grau justo;
  • Terceiro grau menor (b);
  • Quinto grau diminuto (b);
  • Sétimo grau diminuto (bb).

Se não lembra o que são tríades e tétrades, leia nossa matéria sobre formação de acordes, combinado?

Utilizando uma tabelinha, podemos entender melhor os graus de sua formação. Veja só:

Graus do acorde diminuto

Traduzindo:

  • a primeira linha marca os graus da escala maior, a que utilizamos para construir tríades maiores;
  • na segunda linha, apontei a escala maior de Dó, como exemplo;
  • abaixo, na terceira linha, fiz o ajuste dos menores e diminutos, pedidos pelo intervalo do acorde diminuto;
  • seguindo, a última linha apresenta as notas que precisamos para formar o acorde diminuto de Dó.

O que fizemos foi retornar uma coluna para cada b. No caso do sétimo grau, como havia dois, recuamos duas vezes.

Temos, portanto, as notas C – Eb (ou D#) – Gb (ou F#) – A (ou Bbb) no acorde diminuto de .

Por que uns são menores e outros diminutos

Reparou que, quando o terceiro grau é recuado um semitom ele se chama “menor”? E notou que, no caso do quinto, recuando um semitom chamamos “diminuto”?

Isso aconteceu porque, por convenção, apenas o primeiro, segundo, terceiro, sexto e sétimo graus podem ser menores. O quarto e quinto graus, quando recuados, recebem o nome de diminuto.

Outra curiosidade repousa no fato de quarto e quinto graus não serem chamados maiores, quando inalterados. Eles recebem a nomenclatura de justos. Quarta justa, Quinta justa.

Isso ajuda a explicar por que o sétimo grau recebeu dois “b”, na formação do acorde diminuto. Se houvesse apenas um recuo, teríamos uma sétima menor. Mas não é isso que precisamos.

Por isso, recuamos outro semitom (já que é 7º bb), atingindo o sétimo grau diminuto. E, embora corresponda ao sexto grau da escala maior, não o chamamos assim.

Devemos isso à lógica que fundou os acordes.  Como o acorde diminuto é uma variação do sétimo grau do campo harmônico maior, chamamos 7ª diminuta (bb).

Intervalos do acorde diminuto

Já sabemos que o acorde diminuto usa os graus 1º, 3º menor, 5º diminuto e 7º diminuto. Agora, para facilitar a memorização, pensemos nos intervalos contidos:

  • Do primeiro ao terceiro grau menor temos um tom e meio;
  • Partindo do terceiro, temos mais um tom e meio até o quinto diminuto;
  • Do quinto diminuto ao sétimo grau diminuto, mais um tom e meio.
Intervalos do acorde diminuto

Tal intervalo nos permite descobrir que, eventualmente, as notas contidas em um acorde diminuto estarão presentes em outros, apenas mudada a ordem.

O acorde diminuto e suas repetições

Vamos identificar a formação de todos os acordes diminutos:

Repetições do acorde diminuto

Olhe com atenção. Você verá que as notas que formam o C° são as mesmas que formam D#° (Eb°), F#° (Gb°) e A°. E o mesmo ocorre outras duas vezes.

Temos, portanto, apenas três tipos de acorde diminuto. Trocando a ordem, mudamos a nomenclatura e o baixo. Porém o acorde continua fundamentalmente igual. São iguais (ou seja, formados pelas mesmas notas):

I – C°, D#° (Eb°), F#° (Gb°) e A°;

II – C#° (Db), E°, G° e A#° (Bb°);

III – D°, F°, G#° (Ab°) e B°.

E por que isso? Basta pensar no intervalo do acorde diminuto: um tom e meio. Se, a cada tom e meio, tenho a próxima nota, no fim, nasce o looping.

Qualquer acorde diminuto, portanto, tem suas notas repetidas em outro acorde diminuto. Basta progredir um tom e meio.

Dessa forma, se a sonoridade da música permitir, posso trocar um acorde por outro mais próximo. Isso evitaria correr demais pelo braço, subindo e descendo.

Iguais, mas não a mesma coisa

É preciso ter em mente que, embora sejam as mesmas notas, a ordem é diferente.

Especialmente se usamos a fôrma que inicia na corda E, o som varia muito. O baixo destacado será outro, podendo gerar alguma estranheza.

Por isso, na hora de aproveitar outro acorde diminuto gêmeo, experimente. Se soar bem, ótimo. Mas evite sacrificar beleza por praticidade, OK?

Função harmônica: onde nasce a importância dos diminutos

Talvez você não se lembre, mas há três funções harmônicas. Elas se encarregam de catalogar os acordes de acordo à sua utilidade e importância. São:

– Tônicas: acordes que passam a sensação de normalidade, conclusão. Iniciam, oferecem repouso e encerram a harmonia;

– Subdominantes: acordes de meio campo. Não possuem grande simbolização senão a continuidade da harmonia;

– Dominantes: geram uma necessidade aflitiva, como se clamassem pela tônica. Seu “choro aflito” corresponde a dissonâncias presentes em sua estrutura.

 Nossos ouvidos não negam: o acorde diminuto é a majestade dentre os acordes dominantes. Vamos entender por quê?

Os trítonos: o intervalo infernal

Quando, num acorde, há a distância de três tons entre notas, temos um trítono.  Tri (três), Tono (tom). Mas três tons inteiros. Combinado?

Esse intervalo, digamos, incomum é responsável pela dissonância. Consequentemente, é, também, responsável pela sensação de desconforto e inconclusão.

Heavy Metal e trilhas de suspense e terror adoram os trítonos, quando querem que o público roa as unhas.

No entanto, não os encerramos nesses estilos. Há trítonos em todo campo harmônico maior, no sétimo grau. Justamente por isso o B7(5b) “chama” o C com tanto vigor.

Já no caso do acorde diminuto, ele possui não um trítono. Mas dois! Por isso é considerado rei. Veja só:

  • entre o primeiro e quinto grau, temos um trítono;
  • novamente, entre o terceiro e sétimo grau, temos outro trítono.

Confira na tabelinha, mostrada acima.  Vai ver possuírem intervalo de seis semitons, ou seja, três tons inteiros.

Aplicando o acorde diminuto na prática

Já sabemos o que é e como montá-lo. Mas quando usá-lo, em nossas composições? Ora, é simples: quando a melodia pedir e aceitar.

Os diminutos são perfeitos em harmonias complexas, como de Bossa Nova. Isso porque mantêm o vigor da melodia, tornando-a, simultaneamente, rica e relaxante.

Contudo, mesmo em harmonias simples, podemos aproveitar o acorde diminuto. Nestes casos, ele servirá bem como acorde de introdução. Podemos, também, utilizá-lo para passagem de tom, quando temos um refrão elevado, no final.

Ainda, o acorde diminuto pode ajudar a criar um momento mais tenso, na música. Isso é maravilhoso em estilos que misturam popular com clássico.

Para ilustrar melhor, vejamos exemplos práticos do uso de acordes diminutos.

Acorde diminuto na Bossa Nova

Peguemos a música “Façamos”, parceria de Chico Buarque e Elza Soares. Após concluir a introdução, já no acompanhamento da primeira estrofe cantada, temos:

G7M – G#° – Am7 – D(9)

Se olharmos com atenção, o baixo progrediu casa a casa: G, G# e, finalmente, A. Além de prático, é belíssimo, não acha? A melodia tornou-se muito mais rica do que se usasse E7 para introduzir o Am7, não é mesmo?

Acorde diminuto no Rock Nacional

Não conseguiria apontar outro exemplo senão “O tempo não para”, do mestre Cazuza. É uma composição simples e, digamos, repetitiva. São poucos os acordes.

No entanto, ao chegar ao refrão, os acordes são estes:

G – Am7 – D – D#° – C

 Tivemos um compasso de G, um compasso de Am7. Mas, ao entrar o D, ele teve meio compasso emprestado para o D#°, que convidou o C.

Sem a dissonância, a melodia ficaria mais pobre. O emprego de um acorde diminuto fê-la muito mais bela e cativante.

Mais ampla e comum que a Bossa, a MPB tem vários exemplos. Gosto de um, em especial: “À primeira vista”, do Chico César. Veja:

B – G° – G#m – F° – E – F° – F#11

A harmonia possui dois diminutos em bem poucas notas. E, ainda, um deles se repete. E o resultado final é impressionante, com essas chamadas e passagens.

Acorde diminuto substituindo outros dominantes

Sendo um senhor dominante, o acorde diminuto pode substituir outros deles. Embora o impacto seja grande, há situações nas que pode-se empregar tal substituição facilmente.

Basta considerar que, se quero substituir um F7 que introduz um C7+, por exemplo, faço o seguinte: adoto um acorde diminuto meio tom acima (#) do dominante. No nosso caso, substituirei o F7 por um F#°.

E lembre-se: se o baixo for mais interessante, utilize outro gêmeo. Sugeriria, a depender do caso, o uso do C° — por conta do baixo decrescente.

Foi o que Chico Buarque fez no exemplo que demos antes: E7 substituído por G#°. E7 foi trocado por um diminuto meio tom acima: o . mais um tom e meio: G#°, preferível por conta do baixo.

Gostou de saber tanto a respeito do acorde diminuto? Então, deixe seu comentário contando o que você aprendeu. E, caso ainda haja alguma dúvida, basta escrever lá embaixo.

Será um prazer esclarecer o tema todinho para você, caro aluno.

Fique ligado nas novas matérias. Até logo!

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